A Economia Circular tem sido ao longo da última década considerada a “chave” da resposta às crescentes necessidades ao nível do consumo, na medida em que permite, na sua génese, promover uma gestão mais sustentável dos recursos, sendo nesta perspetiva os resíduos considerados um recurso, mesmo que não tenhamos, à data, conhecimento de todos os seus usos (Ellen Macarthur Foundation, 2012; European Parliament, 2016; Ghisellini, Cialani e Ulgiati, 2016). É considerando esta perspetiva que a economia circular se concentra não só na reutilização e na reciclagem, mas também na redução da quantidade de recursos necessários para cada produto ou atividade.
Foi neste contexto que em dezembro de 2015, a Comissão Europeia adotou o Plano de Ação para a Economia Circular, com o objetivo de garantir o crescimento sustentável na União Europeia e estimular a transição da Europa para uma economia mais circular (DGAE, 2018). Ainda assim, uma transformação tão disruptiva não pode ser alavancada somente a nível estratégico, tendo obrigatoriamente que ser implementada pela economia real, o que passa naturalmente pela integração de princípios e estratégias de economia circular na cadeia de valor, e pela sua adequação ao tecido empresarial local, regional e nacional, tendo em conta as suas especificidades socioeconómicas. É neste sentido, que a constituição do Laboratório Circular do Alentejo se pode assumir como um elemento crucial não só ao nível da promoção da caracterização regional (identificação principais resíduos e subprodutos da região), mas também ao nível do conhecimento (identificação de formas de valorização e reaproveitamento de resíduos, conferindo-lhes a capacidade de se converterem em matérias primas secundárias) e da promoção da economia circular (considerando as sinergias e simbioses essenciais ao seu desenvolvimento a diversas escalas).
Este aspeto assume especial relevância em países como Portugal onde, cerca de 90% dos resíduos são produzidos por indústrias e empresas (EEA, 2014) e a diversidade regional é muito significativa, tornando crucial um conhecimento profundo não só da realidade económica presente ao nível das necessidades de matéria prima, mas também no que se refere à produção de resíduos, uma vez que será sobre estes que devemos trabalhar possíveis soluções.
Esta mudança de paradigma relativamente ao modelo económico potencia a maximização do valor económico do produto, assumindo-se como um desafio para os diferentes setores de atividade, em linha com as diretrizes da Comissão Europeia relativamente à Economia Circular patentes nas cerca de 50 propostas de ação ou intenções de medidas legislativas, distribuídas por cinco áreas principais de atuação, onde a produção/gestão de resíduos são a par da produção, do consumo, do mercado de matérias-primas secundárias e das medidas horizontais no domínio da inovação e do investimento, vetores cruciais do desenvolvimento regional, que contempla cinco setores prioritários de intervenção (os plásticos, os desperdícios alimentares, as matérias-primas críticas, a construção e demolição, a biomassa e as matérias de base biológica) sobre os quais o Laboratório Circula do Alentejo centrará o seu trabalho, através da promoção, em parceria com empresas e associações locais e regionais, de propostas ao nível da investigação, inovação e desenvolvimento tecnológico.